terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O OFICO DAS REZADEIRAS EM SERGIPE

Diz à tradição que o ato de benzer, ou de curar, é a ritualização das coisas da fé, onde muitas vezes se misturam o sagrado e o profano. Herança dos portugueses que ao chegarem ao Brasil sofreram influências dos índios e, posteriormente, dos africanos, sobretudo as mulheres. O conhecimento das plantas.  Quebranto, cobreiro, mau-olhado, espinhela caída, erisipela, vento virado, peito arrotado. Quem quer que percorra os povoados da zona rural, as pequenas cidades do interior ou mesmo as periferias das grandes cidades vai se deparar, em um momento ou outro, com alguns desses nomes que fazem parte de um mundo mágico-religioso, povoado de rezas, crenças, simpatias e benzeções. Na cultura popular, corpo e espírito não se separam, tão pouco se desliga o homem do cosmos, ou a vida da religião. Para todos os males que atingem o corpo e a alma do homem sempre há uma reza para curar. É por isso que, apesar do tempo e dos avanços da medicina, a tradição dos benzedores ainda persiste na nossa moderna sociedade capitalista. Acreditando ou não no poder da reza, tem sempre aqueles que procuram, nas rezas e na benzeções, uma cura para a sua doença ou um alívio para a sua dor.


Não há uma estimativa de quantas mulheres atuam como rezadeiras em Sergipe. Existem ainda os rezadeiros, mas também é difícil informar com precisão o número de homens exercendo  esse ofício no estado. A prática de rezar tem diminuído, mas o professor de Antropologia da Universidade Federal de Sergipe, Jonatas Silva Meneses, afirma que ela resistirá ainda por um bom tempo. As rezadeiras têm algumas coisas em comum: a simplicidade e a fé, por exemplo. Invoca o nome de Deus o tempo todo. Na hora de rezar, misturam orações como o Pai-Nosso, Ave-Maria e o Credo com truques da magia.

Em sua maioria, são católicos. É um freqüentador de igreja. Mas há caso, mas com raríssimas exceções, em que essas pessoas estão ligadas à religiosidade afro-brasileira ou ao espiritismo. Vivem em casas humildes, onde podemos encontrar sobre móveis da sala ou do quarto imagens de santos. Nos quintais, cultivam as plantas que "curam". Ramos de pinhão roxo, arruda, aroeira e guiné são algumas das plantas utilizadas para "benzação". Cada uma é usada para um tipo de enfermidade.  As rezadeiras, em sua maioria, são católicas, embora, suas ações não correspondam às exigências da Igreja Católica. Isso porque elas pertencem ao que chamamos de catolicismo popular. Esse completamente tomado de símbolos e comportamentos criados e adaptados a partir das crenças e experiências de vida, também se configuram em uma grande força de resistência. Tais aspectos imprimem uma inevitável relação entre a ação cotidiana das rezadeiras e a preservação da memória de uma determinada comunidade.

     A benzeção é a mais viva forma da cultura nascida do povo e praticada pelo povo. O povo guarda as suas cantigas, seus remédios, suas preces, suas devoções, seus rituais de trabalho, enquanto tiverem algum sentido na vida deles. Os benzedores tratam seus doentes com rezas, simpatias e remédios que não se contradizem em nenhum momento. Eles transmitem uma grande paz e pelejam com o doente. Diante do tratamento dado pelos benzedores, é fácil enxergar que eles representam valores. Para nós, é impossível imitar suas rezas, simpatias e benzeções. Tudo isso está perfeitamente adaptado à vida dos benzedores e à dos seus doentes, mas muito diferente da nossa vida. É preciso tentar entender as suas histórias e suas realidades, seu modo de pensar, a partir dele próprio, da sua visão de mundo, que é bem diferente da nossa. É grande a diferença entre o oficial e o popular, desde o lugar do tratamento, os nomes dados aos membros do corpo até a própria interpretação da doença e, conseqüentemente, à prática dos benzedores. “Não podemos, portanto, continuar a ignorar o pensamento da metade da população brasileira, se quisermos efetivamente corresponder à expectativa da cultura e da civilização do nosso tempo.
 
As vozes presentes nos sussurros rezados têm muito a nos dizer, por serem oriundas de diferentes épocas. Trata-se de um eco que une diferentes períodos, passado e presente. O próprio ritual já pode ser visto como um discurso, com linguagem própria e que tem muito a revelar. Por fim, ao pronunciar as palavras mágicas “com dois te botaram, com três Jesus Cristo tira”, podemos observar aspectos que vão além de rezas e galhos, são os sujeitos históricos inseridos em campo, detentoras de complexo universo simbólico, da eficácia de cura, de poder. 
Antonio Marcos Lima da Silva
    Damares dos Santos
   Jairo Camilo Ferreira
   Jocimar dos Santos silva
Leidivalda Dorotéia Dorotéia da Silva


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